Como podemos saber se vamos poder
mirar os deuses? Os deuses emaranhados na teia Augusta. Seus gemidos de
lentidão atestam o desconforto de estarem imobilizados nos fios do tecido
eterno... Quando saímos, às ruas, anônimos na multidão que se engolfa em dias
mortos de afazeres totalmente diários, olhamos para um céu baixo de azul que se
perde em nuvens de branco esfumado, esse
céu ínfimo de esperança, atravessa toda a extensão de nosso olho e se dilui nas
nuvens definitivas... Os deuses se ocultam nesse arco azul.... A multidão, como
um rio barrento, desce as ruas e nas curvas se debate...
Que olho teceremos na cavidade
ocular vazia que ostentamos? Os deuses escondem em si tudo que é mortal de
infinidade... A multidão se agita nas ruas, praças, naves de aço, lagos
estagnados... Flores falseadas brotam no pavimento de concreto... Homens
nascidos da decrepitude governam o mundo... Seus olhos pendem nas paredes do
poder.... O poder e sua afirmação.... O poder e o homem. O fantoche.
As portas estão aqui para sempre.
Cidades fendidas exalam seu odor...
Sentimento brasileiro.
Um pássaro; uma criança de olhos
livres dos grilhões aponta para a fenda no céu e exclama: “Um deus está ali!”
Três vezes desiguais, mais uma;
entremos nessa fenda; enchamos nossos copos e brindemos esta hora até a
madrugada dos nossos dias...
Nosso olho clarificado, enfim vê;
um deus está ali...
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