O espectro do sonho - (e a vertigem de acordar)Páginas

OUTRAS IMAGENS









A mocidade pendurada na parede como um quadro pintado, e eis que as tintas envelheceram. O aposento de guardados inúteis. O medo se oculta atrás da porta.




 



Espera. Longa espera de um deus sentado numa pedra de rocha antiga (dos tempos da antiguidade) aguardando um pensamento de fé que tardaria por um sempre esperar. O tempo secou tudo. Palavras de uma fala rouca que o pó do deserto cobre aos poucos até não restar nada. Nessa espera, um deus sentado adormece, sonha com a humanidade.







Quando os deuses sentam-se na praia para contemplarem o sol no centro do céu, as horas férreas do dia se amiúdam; o mar não se agita... O dia se aniquila num fim de tarde; num esquecimento eterno...Os deuses partem num barco que se perde na distância; na distância que as palavras não exprimem e a alma não alcança... O sol está se pondo...










A janela geométrica se abre para o mistério da rua. As portas retangulares e anunciadoras se abrem para as profundezas da sala repleta de alucinações fantasmagóricas. As paredes confessam pecados sensuais entre a razão e a alucinação. Sobre a mesa da sala repousa um livro de poesias inacabadas. Morte...










Os dias tecem o fio dos acontecimentos inevitáveis. E no canto nebuloso das praças vazias erguem-se os pilares vivos que professam rezas mortas e surdas, e emitem, por vezes, frases veladas que se transformam em pedras negras que essas vozes torvas usam para erguer seus templos de poder e fascinação. Olhares famintos se ocultam nesses templos erguidos sobre o nada indizível em que se comprazem. Tudo está desfeito...A crença já não vive...











[...] e há um céu baixo além da tormenta. E  os carros conduzem lâmpadas incandescentes que ofuscam as humanidades que teimam em mirar o filamento em chama. A fatalidade das horas diárias constrói minutos inaccessíveis em pontos vazios da alma.

[...] e há deuses artesãos na nossa memória. Estamos hirtos na praia, contemplamos navios na distância fugitiva de tudo que a razão oprime. Há um nada em tudo que nos pertence. Solidão.

[...] e a nossa morte cresce.

Aves banhadas nas luzes das auroras todas;  quimeras que o sonho empilha em torres coloridas que se estendem além do mar de indagações. [...] a aurora é um ponto eqüidistante entre a luz e a treva espessa. Promessa definitiva. [...] e há a súbita visão do cadáver que seremos. Os cães nos farejam com amizade. É tudo... Brevidade dos fatos reais que se estendem além da tormenta que oculta um céu baixo e sem azul da realidade que nos consome como filamentos incandescentes de lâmpadas que se apagam em versos desfeitos.

[...] tudo é humano. Saudade. O mar é perfeito; barcos da ilusão.











O dia cavalga a catástrofe na praça de árvores efêmeras. No centro da praça a igreja está inerte. O dia levanta um sol de luz impronunciável, ilumina a praça, a casa, a fonte esquecida. A fonte contempla sua sombra, ela sabe. Sua alma lembra sonhos antigos de morrer na praça. O vento traz uma folha seca, uma lembrança, uma sombra perpetuada na sombra da fonte. E num reino distante alguém pereceu de saudade. A igreja tem uma sombra piedosa. Figuras geométricas no pavimento da praça...

O vento , brando, é uma brisa que provoca o esquecimento. Sombras de uma espera interminável. Tudo é uma espera que cansa. O esquecimento é inevitável. O sol rodou, rodou no centro da praça cansada de esperar. As sombras foram se alongando e miudamente se perderam no fim da praça que um grande nada de sombras geométricas que se perdem na catástrofe que o dia cavalga na praça de árvores efêmeras de uma cidade qualquer. Figuras que o sol esquece de aquecer.