A luz do Sol
caminha pelo chão, iluminando casas, praças, florestas e pensamentos amolecidos
pela lentidão do dia; e nessa manhã alguém afirmou que no fim do dia o cadáver
do Sol seria engolido pela noite.
Hora derradeira.
Salas escuras.
O banquete será
servido quando o relógio apontar a vigésima hora e a carne ainda estará crua e
sem sabor.
Livros antigos.
A saudade não
pode ser escrita, descrita, restrita.
Vento. Folhas arrancadas.
Folhas de arvores
que se desnudam sem pudor.
Inocência verde.
À tarde, depois
de construída a atiradeira, e a pedra ter sido arremessada, só restou implorar:
“voa passarinho, voa, que não atiro mais pedras”. Ah! Impossível deter o
inevitável, ele não voou... A lata que serviu de urna para o pássaro morto,
enferrujou, apodreceu... A memória não enferruja, não se desfaz, mas, apodrece
sozinha enquanto padece de morte o sol no fim do dia que agoniza.
A tarde e sua
calma. A tarde e seu significado, e seu martírio, e seu enigma. Ela ama sua
alma iluminada pelo sol.
Ela pertence à
memória dos deuses que habitam o sempre.
O poente se
avermelha de piedade.
[...] um pássaro
morto é único.
Árvores antigas
contemplam o feroz espetáculo de renúncia do sol que se ajoelha perante a noite
soberba que se agiganta e abraça o sol com tamanho vigor e piedade que ele
adormece indefeso para no dia seguinte se levantar majestoso. [...] o princípio
do esquecimento se revela.
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