O MAR, O PORTO
A pele, num dia cinzento,
não vale nada. O que conta, em qualquer tempo, são os olhos que podem ver o
mar; o mar em sua grandeza.
Na
rua central, alguém, desvalido, comeu um pão caído no chão. No dia seguinte não
houve pão. O vento não soprou cabelos. Solidão; fome... A insustentável fome do
mundo. Espectro ou vivente têm seus momentos de lucidez. Um e outro, quando
chove, abrigam-se em suas lembranças e adormecem juntos, aninhados em folhas de
papel velho. O mar em sua grandeza azulada, esverdeada; não sei.
A
cidade cai na noite, ergue-se com o sol do dia seguinte. Se não houver pão
haverá pedras do pavimento de uma rua qualquer. Os homens estão ali, inertes.
Os
pés, num dia cinzento, não valem nada. O que conta são as mãos que afagam e
consolam. Num quarto, antigo e distante, alguém perdeu um pensamento. A solidão
de estar só diante do lago manso e não ter na mente, versos para consolo; e
quando o lago fica seco, nada resta... aí está o mistério... O barco esquecido
no porto... O que antes navegava no lago ou no pavimento de cidadelas mudas,
está posto na indiferença humana... um barco... um homem... um homem-barco
esquecido no porto....
Ah!
O mar e seu gigantismo. O porto é uma lembrança em que a saudade aporta. E o
dia pendeu no entardecer...
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