Mesmo assim, quando se me perguntassem insistentemente, eu teria, mesmo calado em poucas palavras, algo a oferecer sobre o significado de tais imagens. E juntos choraríamos a certeza de descobrir que a verdade estaria oculta onde não a procuramos. Esse acontecimento, por si só, já nos confrangeria. Portanto, fato dado, dou o testemunho da veracidade das conclusões hipotéticas que se me ocorreram, enquanto acordado, sonhando sonhos que eu próprio desconhecera por absoluto desconhecimento do que me vai n’alma.
Isso é um assunto que a mim não pertence. Deve estar oculto debaixo das pedras em que eu tropeçaria. As coisas estão ali... e Dalí pertencem...
1. A linha do horizonte: símbolo da procura do olho queimado por um momento de descanso.
2. Figuras amorfas: a dor causada pela realidade.
3. Esferas e círculos: desejo de ausência. A lembrança e todas suas conseqüências.
4. Aglomeração de formas amarradas: pavor de multidão, desejo de isolamento, a angustia sentida quando se encontra o que não é.
5. Imagens dentro de imagens: desejo de esquecer o que não se quer.
6. Claro-escuro: Suprema solidão. Entre os deuses e demônios a existência de nós mesmos.
7. Distância entre pontos visíveis e invisíveis: o exato momento do esquecimento.
8. Nuvens desenhadas: Barcos que flutuam no céu como se fossem sombras brancas. O essencial. O imponderável.
9. Formas em estado de levitação: a arquitetura da poesia pintada em seu estado mais absoluto e primitivo.
10. Personagens alados ou com seios: fome indescritível. As deusas da antiguidade, aladas e de seios fartos, talvez aplacassem essa fome.
11. Sombras projetadas em qualquer superfície: a linha divisória entre a verdade absoluta e o segredo mais indecifrável do universo. As sombras projetam o terrível nano – segundo da escolha que tem que ser feita agora. As nuvens não são sombras; são manchas que flutuam no céu esbranquiçado pelo esquecimento.
12. Atmosfera árida: a derrota primeira. Irreparável. Persistente. Sensação absurda de tentar respirar o ar no vácuo do lamento mais profundo e impronunciável. O Nada mais perverso e insubstituível. A ausência de todas as coisas...